segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Daqui pra lá


   Metrôs sempre me pareceram interessantes. Talvez seja a paisagem passando, ou a sensação de estar fora do trânsito congestionado de Porto Alegre. Também tem aquele barulho, que dá a sensação de que a qualquer momento o vagão vai se soltar e vai acontecer como nos filmes, onde um ser estranhamento heroico salva a todos. Ou, talvez, não seja nada disso.
    A estação de metro já foi cenário para muitas histórias minhas. É banal, clássico. A mocinha diz que vai embora, e o mocinho vai atrás dela na estação de metrô, ele se declara, eles se beijam, e tudo acaba em fraldas sujas depois. Entretanto, não é isso que tem de especial nas estações de metrô, e no transporte propriamente dito. O metrô é o único transporte terrestre onde você pode ler sem ter náuseas, e eu sofro muito disso. E no que isso influencia? Sei lá, eu só queria relatar essa minha felicidade.
   Já notou como as pessoas no metrô são diferentes das que andam de ônibus? Certo, eu sei. Sei que são as mesmas pessoas, mas é diferente. Elas me parecem mais intrigantes, todavia acho que isso é resultado de um melhor posicionamento dos bancos, possibilitando um contato visual melhor. Enfim, elas me interessam. Dia desses fui a POA com a minha mãe, e havia uma garota sentada ao meu lado com um violoncelo apoiado entre as pernas. Lembro que pensei: “Poxa, e eu ainda acho trabalhoso carregar um violão.” Aparentemente ela ia para um concerto, ou algo do gênero, porque estudava suas partituras com muita atenção, mas isso quando não estava dormindo durante a viagem.
   Normalmente, uma pessoa, como a garota do violoncelo me chama atenção. Então eu começo a observar. Não criticar, nem julgar, apenas olhar. E logo me pego divagando sobre a possível vida do objeto em questão. E o mais impressionante, é como os metrôs são nostálgicos, entretanto, acho que apenas eu sinto isso. De qualquer forma, naquele embalo barulhento viajo em histórias malucas, de amores e um pouco de ação. Viajo nas histórias das pessoas ao meu redor. Viajo por meus pensamentos, e por tudo, não apenas de metrô.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Eu Sei


  Sei que não sou interessante. Sei que por mais que eu queira acreditar, não sou diferente de ninguém. Sei que não mudarei o mundo, e que serei apenas mais um personagem sem voz de uma história mundial feita de guerras de gananciosidade. Sei que todas as vezes que eu neguei ser igual aos outros, eu estava mentindo. Eu sou igual, sou igual a todos. Sou apenas mais um número em um percentual de uma pesquisa qualquer. Tento me destacar, mas sei que sou apenas mais um. Não por parecer com os outros, mas pelos outros não me verem como um só. Sempre nos verão como um todo. Sempre farão generalizações. Sempre nos tratarão como um número e nos presentearão com cotas. Sempre. Somos todos iguais, para eles, somos todos sem identidade.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Passos em direção a luz

  Os seus passos ecoavam pelo corredor comprido.  Por mais que tivesse passos leves, era impossível que em tais circunstâncias não fizessem barulho. Andava descalça. Havia tirado suas sapatilhas pois apertavam seus pés e não a deixavam pensar. Era bom sentir o chão gelado na sola dos pés após um dia tão quente. Seus pensamentos estavam ali, nos pés. Em um local tão gélido, mesmo com o calor que fazia lá fora, tão escuro e tão solitário, era difícil não pensar nas únicas duas coisas que faziam barulho lá: seus pés.
 Ora corria, ora andava devagar para sentir melhor o solo. Logo, deu-se conta da sua respiração ofegante e começou a ritmá-la, tentando recuperar a calmaria ao seu redor. Sentia-se bem naquela situação, na qual todo o seu mundo havia se liquefeito, e seus pensamentos estavam concentrados em um som tão simples, e uma sensação tão prazerosa. Sentia-se livre. Livre por estar com os pés no chão, sem ninguém a repreendendo por haver a possibilidade de pegar uma gripe. Livre por não haverem problemas, e sua única preocupação seja controlar a sua respiração, para que haja mais silêncio.
  Silêncio. Há quanto tempo não o ouvia? Não sabia nem ao menos se ainda existia. O barulho, assim como sapatos apertados, atrapalhavam seus pensamentos, e ela gostava de pensar. Perdia seus olhos na imensidão de seu próprio ser, e pensava. Em tudo, e em nada. Em genialidades e em babaquices. Apenas pensava. E talvez, a última vez que tivesse ouvido o silêncio, tenha sido também a primeira e única durante a sua vida, quando estava ainda no ventre da sua mãe. Mas era um silêncio diferente, reconfortante. E agora,  um silêncio gélido, em um corredor escuro e solitário.
  Viu então, uma luz. E a medida que ia caminhando em direção a ela, sentia seu calor. Um calor aconchegante, o mesmo do ventre de sua mãe. Aquele calor a atraia, aquela luz, que não era ofuscante, mas sim a luz de um amanhecer em um dia com o céu limpo, a encantava. Começou a correr desesperada, ansiosa. Já não se tinha mais silêncio, mas sim, seus passos descompassados, e sua respiração desritmada. E a luz nunca chegava, ao contrário, parecia se afastar. Logo já não haviam somente seus passos e sua respiração, mas também, vozes. Gritando, felizes, desesperadas, em uma excitação incontrolável. Um barulho eletrônico acelerado, e logo uma luz. Mas não aquela luz, essa era ofuscante, quase insuportável. E então, ouviu sua respiração ritmada novamente, e o barulho eletrônico marcando seus batimentos cardíacos controlados. Quando seus olhos se acostumaram com a claridade outra vez, viu os rostos conhecidos lhe sorrindo. Estava no barulho novamente. Estava viva. E seus pés poderiam tocar o chão outra vez.

domingo, 19 de agosto de 2012

Melancolia escrita

  Seu escritório era escuro. Havia somente uma luminária em sua escrivaninha, forte o suficiente apenas para iluminar a máquina de escrever. Sim, ele conhecia a tecnologia chamada computação, mas não achava magia alguma em escrever com a correção automática do Word. Além da máquina de escrever, um copo de whisky e um cinzeiro emanando fumaça de cigarro faziam companhia aquele escritor excêntrico.
  "Medos que envolvem meu corpo e degradam minha alma, fazem com que eu passe a não acreditar mais em minha própria realidade" Não costumava escrever frases mórbidas como a anterior. Todavia hoje, seu interior estava excepcionalmente degradado. Perturbado com a sua incapacidade emocional, abandonou a sua companheira e foi até a porta de seu apartamento. Saiu sem rumo, com os olhos perdidos acompanhando inconscientemente aquela vasta imensidão. Como se era de se esperar de um dia nublado, começou a chover. Ele não ligou. Continuou a caminhar, como se não houvesse destino.
  Apenas parou quando avistou um bar. Já estava anoitecendo aquela altura. Entrou no estabelecimento, e sentou em uma mesa qualquer ao fundo. Tocava uma banda de blues, para acompanhar sua melancolia. Pediu uma dose de whisky, e lembrou de seu último cigarro no bolso. Permaneceu ali, então, apreciando aquele momento nostálgico, em que lembranças dolorosas passavam em sua mente.
  - Ainda dói?
  - Desculpe, o que disse? - Perguntou assutado, após acordar de seus devaneios.
  - Ah, devo tê-lo assutado. Perguntei se ainda doía.
  - Dói. Sempre dói, sempre há algo para doer, não?
  - Poeta? Não. Escritor? Você tem jeito de escritor.
  - Sim.
  - O que faz aqui em uma noite chuvosa dessas? É sábado a noite, um homem com a sua idade deveria estar com a  família... - O escritor virou o rosto - Ah... Você não tem família...
  - Você poderia, por favor, retirar-se?
  - Desculpe, não queria atormentá-lo. Eu queria apenas fazer companhia a alguém que está emanando melancolia.
  - Tanto faz.
  - Resposta curta para um escritor. Sua mulher foi assassinada, não foi?
  - É.
  - Você presenciou?
  - Sim.
  - Filhos?
  - Uma menina.
  - Faz quanto tempo?
  - Hoje fazem15 anos. Minha mulher foi assassinada de uma maneira brutal, sem que eu pudesse fazer nada. E minha filha, de apenas cinco anos, levada, sabe-se lá para onde.
  - Pois eu sei o destino dela. E ele se cruzou com o seu... - Olhou para o relógio - Há mais ou menos vinte minutos atrás.
   A garota sorriu da maneira mais doce que o escritor já viu, e a melancolia se esvaiu.



terça-feira, 14 de agosto de 2012

Inspiração musical do dia

(Leonardo Augusto/Filhos Bastardos)

Banda  Os Dois - Leonardo Augusto e Lucas Ariel
Música: Filhos Bastardos - Letra e música: Leonardo Augusto
Melhor letra e melhor banda do Festival da Canção da Fundação Liberato!

Nota: Sem bajulações, mas também, sem meias palavras: esse cara é foda pra caralho. Ele estuda na mesma escola que eu, é um nanico, mas quando entra no palco cresce de tal forma que se torna insuperável. Eu lhe admiro muito, pelo seu talento e pela sua humildade. Enfim, chega de "nhénhénhé", aproveitem.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Hina Sword

  Estava pronta para mais uma guerra. A armadura posta, e as armas ao seu alcance. Hoje seria a pior de todas, teria de enfrentar os monstros que já foram seus iguais com seus olhos vermelhos e assustadores. Sua armadura era sua melhor roupa, juntamente com o lápis preto fortemente traçado para destacar seus olhos. Suas armas eram suas palavras, seu sorriso e seu olhar. E os monstros eram as pessoas ao seu redor. Aquelas que um dia já a acompanharam nas conversas, gargalhadas e bobagens. Mas hoje, viraram os monstros traidores, contaminados pelo vírus do ódio. Aquele vírus, que ela sabe, foi ela mesma quem criou.
  A guerra repetia-se todos os dias, porém, nem todas as batalhas ela tinha força para encarar. Havia dias em que deixava sua armadura no seu forte, e outros em que preferia não usar suas armas. Calava-se, e se escondia em lugares onde os olhos inimigos não a pudessem ver. Para a sorte da guerreira, seu cavaleiro negro estava sempre lá para protege-la. Ele usava da melhor arma que dispunha: o abraço. A guerreira virava princesa, e deixava com que as lágrimas doces brotassem em seus olhos e rolassem pela face. Ele a fazia sorrir, e quando a princesa levantava o rosto, já tornara-se guerreira novamente.
  Todavia hoje, após muitos dias de fraqueza, a guerreira voltaria a lutar. Com sua armadura e suas armas. Não se deixaria abater, pois a guerra ainda não terminara. E ela continuará a lutar, contra os monstros que ela mesma criou, ao lado de seu cavaleiro negro. Pondo-se posta ao que vier, pequenas ou grandes batalhas, pois a força estava ao seu lado. A força era ela. Continuaria a lutar, por todos os dias de sua vida.


segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Ditadura literária

  Proposta de português. "Faça um texto comparando as gerações" disse a professora. Ponho-me a escrever. A lapiseira em mãos, e nada mais. Se eu errar, eu risco, nada de apagar. O que foi escrito tem de ficar ali. As palavras saem fervorosas, confiantes, conscientes. Tratam de tabus quebrados, conceitos derrubados, e preconceitos esquecidos. "Não está bom" disse a professora.
  Regra número um quebrada: tudo foi apagado. A folha sem espaço, agora ficou marcada pelo traço firme de uma mão pesada. Volto a escrever. Dessa vez mais objetiva, mais específica. As palavras já não são tão confiantes, conscientes, são produto de um planejamento. Tudo que quero dizer, já não é mais dito. Começo a moldar uma opinião. "Não está bom" disse a professora.
  Agora é uma questão de honra. Já não pego mais a lapiseira, escolho a caneta azul para contrastar com as linhas pretas. Escrevo algo que não me cabe, mas agora já não há mais tempo. Deixo os versos bonitos de lado, as inversões de frase, e até a minha opinião. Não aceito, e não gosto do que estou escrevendo, mas são as regras. Tenho de obedecer. Não me importo mais com a opinião da professora. Entrego o pequeno parágrafo, e digo um singelo "Tchau Sora".
  E de que adianta escrever para se expressar, se minhas expressões não agradam a gramática? Suas regras, suas estipulações, e o que eu ganho? Um "Não está bom"? Entrego-me a essa ditadura literária, porém por pouco tempo. Saio da sala, e penso comigo "Foda-se a gramática".

domingo, 5 de agosto de 2012

Inspiração musical do dia


Ouvi isso acidentalmente na TV hoje, e obviamente reconheci a minha querida Nothing Else Matters. Porém, não era simplesmente a música genial tocada pela Metallica, era uma versão no violoncelo. E agora estou aqui, após ter garimpado ela no You Tube, compartilhando-a com vocês. Apreciem.
Beijo na massa encefálica.

sábado, 4 de agosto de 2012

Ironias temporais

  As vezes a gente pensa em como o tempo passa rápido. Eu sempre soube disso, entende? Sabia que tinha pouco tempo para muita coisa. Mas o que para os outros é apenas um ditado popular, ("nossa, como o tempo passa rápido") para mim é um pesadelo. Olho para o histórico do blog, e vejo os anos que se   passaram, e o quanto minha cabeça mudou desde o início, quando ainda nem existia o atual título do blog.
  Desde lá, muitas coisas aconteceram, muitos fatos se sucederam, e percebe-se cada sentimento meu nas palavras que escrevi. Talvez algum de vocês (muito provavelmente, aliás) já tenha sido o motivo de meus textos, ou tenha sido coadjuvante das minhas histórias, de qualquer forma, estava lá. Me amando, me odiando, ou somente existindo, sinto me agradecida por você ter me inspirado, e honrada por tê-lo presente aqui de alguma forma.
  Todavia, voltando ao assunto principal do texto, também me sinto de certa forma feliz pelo tempo que passou e está passando. Dizem que o tempo cura tudo, mas o tempo não cura porra nenhuma. Quem cura é você, usando do tempo apenas como aliado. E eu usei. Usei da linha temporal, aproveitando cada segundo para que nada fosse feito sem pensar. E não falo de fazer coisas erradas (seja lá o que você considere como errado), nem de fazer o que se tem vontade. Falo de ser feliz, mesmo. Sempre caminhar a favor da felicidade, com paciência, acompanhando o ciclo natural diário. E o tempo faz com que o presente não se torne eterno, o que pode ser visto como ruim, entretanto é exatamente o contrário. Todo e qualquer momento deve ser vivido e aproveitado. Desde o primeiro beijo, até o primeiro comprimido de Viagra.
  Mas enfim, minha professora ensinou (e a sua também) que devemos concluir os textos dissertativos, porém, aqui fica sua deixa para tirar suas próprias conclusões. Pense, a ditadura acabou faz tempo.
  Beijo no umbigo, até mais.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Entre os seus dedos


  Entre os seus dedos estava a minha mão. Na estrada estávamos nós dois. Ao fundo havia o pôr do sol e passeávamos cantando as músicas que mais gostávamos. Afinados? Não. Um mais desafinado que o outro. Ali não queríamos mostrar talento, apenas desfrutar da companhia. Junto estava o vento, que nos acompanhava como de costume, frio e cortante, os ventos de outono Rio Grandenses.
  Dentre as coisas sem explicação daquela tarde, estava o seu olhar para mim: mais amável e carinhoso do que nunca. Me amava como nunca amou ninguém em sua vida. Me amava como nunca fui amada. Nos gestos estava a inocência, uma inocência perdida a cada geração. Inocência que fazia com que tivéssemos medo até de dar as mãos. Era lindo.
 Porém, aquela estrada, que como eu gostaria que não tivesse fim, tinha que acabar. Terminava em um penhasco, que enigmaticamente se encontrava exatamente em frente ao pôr do sol que havia nos acompanhado naquela caminhada. Sentamos para contemplar, e com o medo e curiosidade de duas crianças, nos beijamos. Entretanto, como a estrada e o pôr do sol, o beijo também acabou, pois era apenas um sonho.




domingo, 22 de julho de 2012

Degradantes madrugadas


  Madrugada de segunda-feira. Neblina, frio, um minuano cortante e os resquícios de uma noite de domingo. Ainda se houvem as últimas notas que foram tocadas na guitarra, ecoadas em um vazio imenso de escuridão, o qual os miseráveis postes de luz tentam superar. E em um contraste estranho entre um azul marinho profundo e o laranja fluorescente das luzes, ruas vazias.
  Um certo sentimento de medo vai impregnando as minhas veias. Sons, passos, chaves, luzes, carros. Nada incomum, porém aterrorizador quando se está sozinho em uma madrugada. Ônibus passam vazios, talvez ainda com a essência daquela noite, mesclada com o sabor de segunda-feira.
  É possível ouvir um ruído a quilômetros de distância, e agora, qualquer ruído não é apenas um ruído. As chaves de casa que já foram jogadas para dentro do portão, me deixam presa em uma cela aberta, contudo, sem escapatória. Com um olhar atento e sonolento vigio incansável e inutilmente ao meu redor, na esperança de conseguir antecipar meus gritos para o nada.
  Madrugada que se repete todo o início de semana, entretanto, cada vez mais fria e escura, aterrorizante e solitária, conforme o inverno vai se acomodando. Conforme o medo vai me domando. Conforme meus pensamentos me torturam em um filme de terror completamente projetado e ilusório. E meu psicológico me iludi, brinca, me causa medo, faz sentir calafrios. Os minutos se tornam horas, e os sons se tornam ameaças.
  Apenas incansáveis vinte minutos, torturantes, degradantes, frios, e cada vez piores.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

This is Rock!

 E pra vocês, com honra, divulgo o video dos meus amigos da PREGOS NA PAREDE. Sem mais.

(Pregos na Parede - Rádio Pirata/RPM)

 A propósito, quem for ver o video, veja até o final né, por favor. Muito provavelmente vou anunciar os shows deles por aqui, como uma boa fã. Enfim, se gostaram compartilhem, se não gostaram compartilhem também, o importante é assistir.
 Beijo na massa cinzenta, e se cuidem.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Em lados opostos de um mesmo mundo


  Em suas mão havia um livro qualquer, o qual ela lia fervorosamente, compenetrada em seu mundo de ilusões. O frio a obrigava a usar luvas, cachecol, e um casaco relativamente grande, que fazia com que estivesse completamente desajeitada. Naquela visão de milhares de roupas com alguém em seu interior e um livro cobrindo o rosto, o que apenas se via, eram seus cabelos compridos ao vento, que, de uma forma desajeita, a deixavam linda.
  Ao som da música alta, perdido em seus pensamentos, estava ele. O frio que atingia a ela, não atingia na mesma proporção a ele. Ao longe, só se observava alguém com um olhar profundo, em um eterno vácuo. E que, no mesmo compasso da música que ouvia, batia constantemente a mão em um objeto qualquer. Estavam tão distantes um do outro, em mundos completamente distintos, mal sabiam eles, que estavam sentados no mesmo banco.
  Por uma grandiosa brincadeira do destino, ironia da vida, ou apenas distração da linha do tempo, a menina do livro, em uma dessas manhãs convencionais onde ambos sentavam em lados opostos do banco, ao levantar-se, sem perceber, deixou cair seu cachecol. O menino músico, nem ao menos notou que ela havia saído, entretanto, quando ia embarcar no ônibus, viu aquele cachecol no banco da parada, e sem pensar, o pegou. Ao final do dia, ele estava usando o cachecol.
  Voltavam sempre no mesmo ônibus, e naquele dia, isso não iria mudar. Ao descerem na mesma parada, a garota não pode deixar de reparar no cachecol que o garoto que descia a sua frente usava. Então, deu-e conta de que seu cachecol não estava em seu pescoço. O que ela faria? Perguntar? Acusar? Nunca havia visto aquele menino. E se o cachecol nem ao menos fosse seu? De repente, já fora do ônibus, depois de uma sucessão de pensamentos automáticos, notou que palavras saíam da sua boca:
  • Com licença, esse cachecol, onde você o encontrou?
  • Aqui nesse banco. Por acaso é seu? - Perguntou com os olhos baixos.
  • É sim, obrigada por pegá-lo.
  • Imagina. - Disse devolvendo a ela. - Seu...Seu perfume é muito bom.
  • Obrigada.
  Nesse momento, olhavam nos olhos um do outro, mergulhados na imensidão, como se houvessem encontrado, o que procuravam por tanto tempo, e que sem perceber, estava literalmente ao lado deles.

Bárbara Hunter

Nota: Finalmente, o último texto selecionado. O pseudônimo é Bárbara, porque eu sempre gostei desse nome. E o sobrenome, é porque, então, as iniciais ficam BH, como alguns me chamam, e BH da Bhrenda e Hugo (awn, que fofo). De qualquer forma, estou feliz por estar compartilhando a minha felicidade com quem lê o blog. Eu sei que muitos de vocês irão julgar, mas foda-se.

sábado, 14 de julho de 2012

Sentença de uma mente culpada


  Ela estava no banheiro. Encarava-se no espelho embaçado tentando descobrir a si mesma. Na pia havia sangue, e suas mãos tremiam demais para ligar a torneira. Enrolada apenas em um roupão, reconstituía os fatos daquela noite.
  Atreveu-se a ir até a sala. Uma garrafa de vinho, cacos de vidro pelo chão, sangue, um homem, sangue, um corpo, sangue, seu amor. A cena provocou-lhe ânsia, e apesar do ato cometido aquela noite, não lhe eram de costume tais circunstâncias. Foi então que aquele vinho lhe atraiu. Embebedou-se o suficiente para esquecer a culpa.
  Agora sentada no sofá da sala, de pés descalços, com o roupão entreaberto, em meio aquela carnificina, admirando o sangue em suas mãos que não mais tremiam, levantou-se, e foi até sua cozinha. Abriu uma das gavetas e correu seus dedos finos pelas facas. Escolheu a mais afiada. Encheu a banheira com água morna e banhou-se. Limpa daquele sentimento fúnebre, ainda nua, pegou a faca que havia deixado sob a pia do banheiro e sentenciou a própria morte.
  Meia noite, ela acabara de sair do banho. Sorria, pois logo ele iria chegar. Estava secando suas pernas branquinhas, quando alguém bateu a porta. Apenas vestiu um roupão e soltou seus longos cabelos morenos. Foi até a porta, e quando abriu, seu sorriso desmanchou. Viu apenas aquelas mãos gigantes agarrando-lhe a cintura, o cheiro de álcool, e a garrafa de vinho na mão. Ela debatia-se desesperadamente, tentando fugir daquela criatura grotesca.
  • Vamos linda, colabore com o último desejo de seu marido.
  • Último desejo? - Balbuciou.
  • Ele gritou seu nome antes de eu o matar.
  Sua visão escureceu, o chão sumiu, viu apenas um vaso de flores ao alcance. Cacos de vidro, sangue e um homem morto em sua sala. Seu amor, sangue, um corpo, sangue, uma faca, sua morte.

Phoebe O'Connor

Nota: Esse é o outro texto selecionado para o Liberarte. O pseudônimo assinado é o nome da personagem principal do livro "Uma história a três", que, aliás, vale muito a pena ler.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Porém, a gente cresce


 Saudade de quando não havia tédio, e eu conseguia tornar qualquer coisa a minha diversão. Saudade de quando um copo de Nescau me fazia a criança mais feliz do mundo. Saudade de quando a minha maior preocupação era se eu ia conseguir ver meu desenho preferido. Saudade de quando eu odiava meninos, e eles odiavam meninas, e eu podia contar com minhas amigas de verdade. 
  Talvez eu nem tenha sido feliz aos olhos dos outros, porque eu não ganhava todos os brinquedos que queria, eu não tinha videogame, nem uma família de verdade. Meus avós moravam longe e grande parte do tempo eu estava sozinha. Entretanto, eu não me importava, e é disso que eu tenho saudade, de não ligar para as coisas e viver na insuperável inocência infantil. Conseguir estar sorrindo, mesmo brincando sozinha com meus amigos em uma história imaginária, considerando aquilo a coisa mais incrível do mundo.
  Porém, a gente cresce. Eu cresci, e com isso vieram os problemas, ou melhor, e com isso eu comecei a perceber e me preocupar com os problemas. Porque eles sempre estiveram ali, me machucando, me atingindo, mas eu simplesmente era feliz por ignorar inconscientemente tudo aquilo. Agora eles estão perto, longe, em mim, em toda a parte. Muitas vezes eu sou o problema. Eu tenho saudade, saudade de quando as coisas eram diferentes.
Hina Sword

  Nota: Hina Sword é o meu pseudônimo escolhido (por razões que não são de grande relevância explicar). 

  Esse é o texto que foi para o livrinho do Liberate. Aliás, um dos textos, porque escolheram três das cinco crônicas que enviei para publicar. E vocês devem imaginar a minha felicidade, não? Porque eu contava apenas com uma crônica publicada ontem, quando postei o "texto" anterior (não sei se aquilo é exatamente um texto), na verdade, eu não contava com nada, mas enfim. Amanhã posto outro texto publicado, e depois posto os não escolhidos também, com suas devidas correções, claro.
  Quero parabenizar os outros ganhadores do Liberarte, se algum deles ler meu blog, obviamente, todos merecem. E, contar um fato que me ocorreu na entrega do prêmio: ontem eu recebi o e-mail dizendo que eu tinha ganhado, com instruções de onde seria a premiação e etc. E publiquei, como vocês viram. O que aconteceu, é que eu achei que a entrega dos prêmios seria no módulo, por mais que eu tivesse lido muitas vezes "auditório" escrito naquele informativo. E, como vocês podem imaginar, eu fiquei esperando lá, no lugar errado, até me avisarem e eu sair andando, desesperada, para não perder nada. 
  Acho que é isso, até a próxima. 
  A propósito, desliga o computador e vai ler um livro.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

"Oi, Bhrenda
Seu texto foi selecionado para o Liberarte 2012.
Compareça à cerimônia de premiação, amanhã, às 10h, no Auditório.
Um abraço
Íris"

  Olha a minha surpresa de quarta-feira aí. Como eu havia mencionado no texto anterior, eu preparei alguns textos para um concurso da minha escola, o tal de Liberarte. E como vocês podem ver, no anexo acima, eu fui selecionada! 
  Obviamente, eu fiquei muito feliz, porque eu estava completamente desacreditada. De qualquer forma, amanhã posto o texto "vencedor", e logo postarei os outros que mandei para concorrer.
  Beijo no cérebro, até más.

domingo, 1 de julho de 2012

Buenas!

  Faz um bom tempo que não posto, não é?
  Bom, se você não lê meu blog, provavelmente nem tenha notado. Na verdade, se você não lê meu blog, provavelmente nem está lendo essa postagem, mas enfim.
  Agora, se você lê meu blog, e por algum motivo sentiu saudade dos meus textos (o que eu considero muito improvável), acho que devo explicações. Pois bem, acontece que com essa vida de escola, não tenho tido mais tempo para escrever, e os textos que escrevi foram reservados todos para o Liberarte (que, para quem não conhece, é um "concurso" de textos da minha escola, digamos assim). E além disso, como não recebo comentários nos meus textos, fui desanimando, comecei a achar que estava escrevendo para ninguém.
  Mas eis que me bateu aquela saudade do blog! E talvez eu volte a escrever minhas bobagens dopadas com uma dose de café, e musicalizadas com um pouco de rock. Fica a escolha de vocês agora, se querem continuar acompanhando os textos da minha pessoa. E eu prometo, os próximos textos serão mais bem escritos.
  Beijo no cérebro, e até mais.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Aleatoriedades

  Um quadro, um professor, física e, quais são mesmo os acordes daquela música? Ah sim, eu deveria ter anotado ontem enquanto fazia o trabalho de matemática. Aliás, quando é a apresentação do trabalho de português? O livro é muito bom, me lembra aquele filme...Espera, aula de física. Preciso ter foco.
  Ondas, propagação, sons, preciso aprender teoria da música, escalas, harmônia. Isso me lembra de perguntar a um amigo meu sobre respiração. Pensando em respiração... Nem sei, perdi a linha de raciocínio... Ah, aula de física.
  Fórmula, energia, potência, preciso entender o porquê de aprender isso tudo. O porquê das coisas serem como são. A vida é muito irônica, feita de teorias, fatos, verdades, e muito provavelmente mentiras. Apenas lembranças é o que ronda a minha mente. Imagens, sou eu? Não sei. Por que passa? Muda? Esquece, se perde? Um momento vago, uma cena turva, e algumas sensações. É isso que eu lembro, vejo, sinto... Aula de física, e agora? Do que ele está falando?
  Quadro, ondas, fórmulas, e quais são mesmo os acordes... E lá vamos nós outra vez.