segunda-feira, 16 de julho de 2012

Em lados opostos de um mesmo mundo


  Em suas mão havia um livro qualquer, o qual ela lia fervorosamente, compenetrada em seu mundo de ilusões. O frio a obrigava a usar luvas, cachecol, e um casaco relativamente grande, que fazia com que estivesse completamente desajeitada. Naquela visão de milhares de roupas com alguém em seu interior e um livro cobrindo o rosto, o que apenas se via, eram seus cabelos compridos ao vento, que, de uma forma desajeita, a deixavam linda.
  Ao som da música alta, perdido em seus pensamentos, estava ele. O frio que atingia a ela, não atingia na mesma proporção a ele. Ao longe, só se observava alguém com um olhar profundo, em um eterno vácuo. E que, no mesmo compasso da música que ouvia, batia constantemente a mão em um objeto qualquer. Estavam tão distantes um do outro, em mundos completamente distintos, mal sabiam eles, que estavam sentados no mesmo banco.
  Por uma grandiosa brincadeira do destino, ironia da vida, ou apenas distração da linha do tempo, a menina do livro, em uma dessas manhãs convencionais onde ambos sentavam em lados opostos do banco, ao levantar-se, sem perceber, deixou cair seu cachecol. O menino músico, nem ao menos notou que ela havia saído, entretanto, quando ia embarcar no ônibus, viu aquele cachecol no banco da parada, e sem pensar, o pegou. Ao final do dia, ele estava usando o cachecol.
  Voltavam sempre no mesmo ônibus, e naquele dia, isso não iria mudar. Ao descerem na mesma parada, a garota não pode deixar de reparar no cachecol que o garoto que descia a sua frente usava. Então, deu-e conta de que seu cachecol não estava em seu pescoço. O que ela faria? Perguntar? Acusar? Nunca havia visto aquele menino. E se o cachecol nem ao menos fosse seu? De repente, já fora do ônibus, depois de uma sucessão de pensamentos automáticos, notou que palavras saíam da sua boca:
  • Com licença, esse cachecol, onde você o encontrou?
  • Aqui nesse banco. Por acaso é seu? - Perguntou com os olhos baixos.
  • É sim, obrigada por pegá-lo.
  • Imagina. - Disse devolvendo a ela. - Seu...Seu perfume é muito bom.
  • Obrigada.
  Nesse momento, olhavam nos olhos um do outro, mergulhados na imensidão, como se houvessem encontrado, o que procuravam por tanto tempo, e que sem perceber, estava literalmente ao lado deles.

Bárbara Hunter

Nota: Finalmente, o último texto selecionado. O pseudônimo é Bárbara, porque eu sempre gostei desse nome. E o sobrenome, é porque, então, as iniciais ficam BH, como alguns me chamam, e BH da Bhrenda e Hugo (awn, que fofo). De qualquer forma, estou feliz por estar compartilhando a minha felicidade com quem lê o blog. Eu sei que muitos de vocês irão julgar, mas foda-se.

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