Em suas mão havia um livro qualquer,
o qual ela lia fervorosamente, compenetrada em seu mundo de ilusões.
O frio a obrigava a usar luvas, cachecol, e um casaco relativamente
grande, que fazia com que estivesse completamente desajeitada.
Naquela visão de milhares de roupas com alguém em seu interior e
um livro cobrindo o rosto, o que apenas se via, eram seus cabelos
compridos ao vento, que, de uma forma desajeita, a deixavam linda.
Ao som da música alta, perdido em
seus pensamentos, estava ele. O frio que atingia a ela, não atingia
na mesma proporção a ele. Ao longe, só se observava alguém com um
olhar profundo, em um eterno vácuo. E que, no mesmo compasso da
música que ouvia, batia constantemente a mão em um objeto qualquer.
Estavam tão distantes um do outro, em mundos completamente
distintos, mal sabiam eles, que estavam sentados no mesmo banco.
Por uma grandiosa brincadeira do
destino, ironia da vida, ou apenas distração da linha do tempo, a
menina do livro, em uma dessas manhãs convencionais onde ambos
sentavam em lados opostos do banco, ao levantar-se, sem perceber,
deixou cair seu cachecol. O menino músico, nem ao menos notou que
ela havia saído, entretanto, quando ia embarcar no ônibus, viu
aquele cachecol no banco da parada, e sem pensar, o pegou. Ao final
do dia, ele estava usando o cachecol.
Voltavam sempre no mesmo ônibus, e
naquele dia, isso não iria mudar. Ao descerem na mesma parada, a
garota não pode deixar de reparar no cachecol que o garoto que
descia a sua frente usava. Então, deu-e conta de que seu cachecol
não estava em seu pescoço. O que ela faria? Perguntar? Acusar?
Nunca havia visto aquele menino. E se o cachecol nem ao menos fosse
seu? De repente, já fora do ônibus, depois de uma sucessão de
pensamentos automáticos, notou que palavras saíam da sua boca:
- Com licença, esse cachecol, onde você o encontrou?
- Aqui nesse banco. Por acaso é seu? - Perguntou com os olhos baixos.
- É sim, obrigada por pegá-lo.
- Imagina. - Disse devolvendo a ela. - Seu...Seu perfume é muito bom.
- Obrigada.
Nesse momento, olhavam nos olhos um
do outro, mergulhados na imensidão, como se houvessem encontrado, o
que procuravam por tanto tempo, e que sem perceber, estava
literalmente ao lado deles.
Bárbara Hunter
Nota: Finalmente, o último texto selecionado. O pseudônimo é Bárbara, porque eu sempre gostei desse nome. E o sobrenome, é porque, então, as iniciais ficam BH, como alguns me chamam, e BH da Bhrenda e Hugo (awn, que fofo). De qualquer forma, estou feliz por estar compartilhando a minha felicidade com quem lê o blog. Eu sei que muitos de vocês irão julgar, mas foda-se.
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