segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Ditadura literária

  Proposta de português. "Faça um texto comparando as gerações" disse a professora. Ponho-me a escrever. A lapiseira em mãos, e nada mais. Se eu errar, eu risco, nada de apagar. O que foi escrito tem de ficar ali. As palavras saem fervorosas, confiantes, conscientes. Tratam de tabus quebrados, conceitos derrubados, e preconceitos esquecidos. "Não está bom" disse a professora.
  Regra número um quebrada: tudo foi apagado. A folha sem espaço, agora ficou marcada pelo traço firme de uma mão pesada. Volto a escrever. Dessa vez mais objetiva, mais específica. As palavras já não são tão confiantes, conscientes, são produto de um planejamento. Tudo que quero dizer, já não é mais dito. Começo a moldar uma opinião. "Não está bom" disse a professora.
  Agora é uma questão de honra. Já não pego mais a lapiseira, escolho a caneta azul para contrastar com as linhas pretas. Escrevo algo que não me cabe, mas agora já não há mais tempo. Deixo os versos bonitos de lado, as inversões de frase, e até a minha opinião. Não aceito, e não gosto do que estou escrevendo, mas são as regras. Tenho de obedecer. Não me importo mais com a opinião da professora. Entrego o pequeno parágrafo, e digo um singelo "Tchau Sora".
  E de que adianta escrever para se expressar, se minhas expressões não agradam a gramática? Suas regras, suas estipulações, e o que eu ganho? Um "Não está bom"? Entrego-me a essa ditadura literária, porém por pouco tempo. Saio da sala, e penso comigo "Foda-se a gramática".

Um comentário: