quarta-feira, 2 de março de 2011

Os ventos de fim de outono


   “Vou lhes contar a história de amor que eu nunca tive,...Escrevia a garota nas páginas que sobraram de seu caderno de campo.
   Costumava escrever sempre que sentia-se só, e agora, estava sentada em um banco de madeira, em frente a rua vazia, esperando seu ônibus. O clima nostálgico dos ventos de outono, as folhas secas que caiam das árvores voando, juntamente com a solidão que estava no ar naquele instante, deram origem, pelas mãos da garota, a uma bela história de amor:
   “... a história de uma garota comum, com sonhos, objetivos, medos e incertezas. Uma garota que todos os dias acordava, tomava seu café, vestia sua roupa, pegava sua mochila, e ia esperar o ônibus no banco da parada. Voltava, estudava um pouco, navegava na internet, e depois ia dormir. Era assim sua vida, desde que havia inciado o ensino médio. Não estava nem feliz, nem triste com isso. Era conformada.
  Os ventos de outono, e as folhas caindo lhe traziam boas lembranças. Lembranças de um tempo em que sua mãe ainda estava presente. Era a estação que mais gostava.
  Estava então, como de costume sentada em um banco envelhecido esperando seu ônibus, olhando para a rua vazia. O Vento gelado tocava seu rosto, estava frio, entretanto, mesmo assim ela adorava aquela sensação. Em sua mente, repassava os mais lindos momentos que tivera com sua mãe, ao mesmo tempo que tentava esquecer. Foi então, que algo surpreendente aconteceu, alguém sentou ao seu lado no banco. Parecia banal, mas não era, isso significava que ela não ficaria mais sozinha todas as manhãs. Ele estava lá. E estaria durante muito tempo.
   - Bom dia. – Disse ele.
   - Bom dia. – Respondeu ela bastante tímida.
   - Sabe, ao contrário de muitas pessoas, eu adoro o outono.
   - Eu também...
   E isso bastou. As palavras ressoaram com um certo eco na imensa solidão da manhã. Não precisava de mais nada, nenhuma palavra, nenhum olhar, algo dizia a ela que ele seria o que mudaria sua vida.
   Passaram-se várias semanas, em que o mesmo diálogo curto e rápido se repetia todos os dias de manhã. Mas isso já bastava para que a menina tivesse um novo motivo para sorrir.
   Logo, ela estava apaixonada por ele, e queria que ele soubesse disso. Insegura, repassava todas as frases prontas e já decoradas, todavia quando via ele, as palavras se perdiam e só conseguia dizer um simples “bom dia”.
   O inverno já estava se aproximando. Os dias cada vez mais frios e solitários. E o amor cada vez mais forte. E seria hoje, hoje que ela contaria. Ele sentou ao lado da garota, e disse o clássico “bom dia”.
   - Bom dia - Respondeu ela sorridente.
   - Helena, tenho algo para te contar, pequena.
   - Eu também, mas fale você primeiro. - Ela olhava diretamente nos olhos dele, com esperança de que saíssem da boca dele, as mesmas palavras que ela tanto queria dizer.
   - Helena, eu sei que pode parecer inacreditável, mas esta noite eu me dei conta de uma coisa, algo que eu já sabia há muito tempo, mas não queria ver. Pequena, eu estou apaixonado.
A pequena e inocente garota, não pode conter um sorriso. Um sorriso imenso de alegria. E disse:
   - Eu também estou...
   - Verdade? Isso é maravilhoso! Assim nós vamos pode sair em um encontro de casais. Eu com minha futura namorada, e você com seu futuro namorado.
   De repente, o chão desapareceu. Todos os pensamentos e lembranças ruins vieram a sua mente. Estava perdida, sem um caminho a seguir. Não havia entendido o que estava acontecendo. Viu o céu escurecer, o chão tremer, e pode ouvir seu coração partir. O longo silêncio que ali ressoou, foi mais agoniante do que as palavras ditas por ele. O ônibus dele enfim chegou, ele se despediu, e novamente, ela estava sozinha. Sentido em seu rosto, os ventos de fim de outono.
   A garota terminou de escrever sua história, apreciou por uns instantes a leve brisa gelada, fechou seu caderno de campo, e guardou suas coisas. Para sua surpresa, sentou alguém ao seu lado.
   - Bom dia. – Disse ele.
   - Bom dia. - Respondeu ela bastante tímida.
   - Sabe, ao contrário de muitas pessoas, eu adoro o outono.
   - Eu também...
   E isso bastou...

Um comentário:

  1. Gostei, lembra-me as manhãs frias de verão q temos...
    muito bem escrito!

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