Os seus passos ecoavam pelo corredor comprido. Por mais que tivesse passos leves, era impossível que em tais circunstâncias não fizessem barulho. Andava descalça. Havia tirado suas sapatilhas pois apertavam seus pés e não a deixavam pensar. Era bom sentir o chão gelado na sola dos pés após um dia tão quente. Seus pensamentos estavam ali, nos pés. Em um local tão gélido, mesmo com o calor que fazia lá fora, tão escuro e tão solitário, era difícil não pensar nas únicas duas coisas que faziam barulho lá: seus pés.
Ora corria, ora andava devagar para sentir melhor o solo. Logo, deu-se conta da sua respiração ofegante e começou a ritmá-la, tentando recuperar a calmaria ao seu redor. Sentia-se bem naquela situação, na qual todo o seu mundo havia se liquefeito, e seus pensamentos estavam concentrados em um som tão simples, e uma sensação tão prazerosa. Sentia-se livre. Livre por estar com os pés no chão, sem ninguém a repreendendo por haver a possibilidade de pegar uma gripe. Livre por não haverem problemas, e sua única preocupação seja controlar a sua respiração, para que haja mais silêncio.
Silêncio. Há quanto tempo não o ouvia? Não sabia nem ao menos se ainda existia. O barulho, assim como sapatos apertados, atrapalhavam seus pensamentos, e ela gostava de pensar. Perdia seus olhos na imensidão de seu próprio ser, e pensava. Em tudo, e em nada. Em genialidades e em babaquices. Apenas pensava. E talvez, a última vez que tivesse ouvido o silêncio, tenha sido também a primeira e única durante a sua vida, quando estava ainda no ventre da sua mãe. Mas era um silêncio diferente, reconfortante. E agora, um silêncio gélido, em um corredor escuro e solitário.
Viu então, uma luz. E a medida que ia caminhando em direção a ela, sentia seu calor. Um calor aconchegante, o mesmo do ventre de sua mãe. Aquele calor a atraia, aquela luz, que não era ofuscante, mas sim a luz de um amanhecer em um dia com o céu limpo, a encantava. Começou a correr desesperada, ansiosa. Já não se tinha mais silêncio, mas sim, seus passos descompassados, e sua respiração desritmada. E a luz nunca chegava, ao contrário, parecia se afastar. Logo já não haviam somente seus passos e sua respiração, mas também, vozes. Gritando, felizes, desesperadas, em uma excitação incontrolável. Um barulho eletrônico acelerado, e logo uma luz. Mas não aquela luz, essa era ofuscante, quase insuportável. E então, ouviu sua respiração ritmada novamente, e o barulho eletrônico marcando seus batimentos cardíacos controlados. Quando seus olhos se acostumaram com a claridade outra vez, viu os rostos conhecidos lhe sorrindo. Estava no barulho novamente. Estava viva. E seus pés poderiam tocar o chão outra vez.
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