sexta-feira, 27 de julho de 2012

Entre os seus dedos


  Entre os seus dedos estava a minha mão. Na estrada estávamos nós dois. Ao fundo havia o pôr do sol e passeávamos cantando as músicas que mais gostávamos. Afinados? Não. Um mais desafinado que o outro. Ali não queríamos mostrar talento, apenas desfrutar da companhia. Junto estava o vento, que nos acompanhava como de costume, frio e cortante, os ventos de outono Rio Grandenses.
  Dentre as coisas sem explicação daquela tarde, estava o seu olhar para mim: mais amável e carinhoso do que nunca. Me amava como nunca amou ninguém em sua vida. Me amava como nunca fui amada. Nos gestos estava a inocência, uma inocência perdida a cada geração. Inocência que fazia com que tivéssemos medo até de dar as mãos. Era lindo.
 Porém, aquela estrada, que como eu gostaria que não tivesse fim, tinha que acabar. Terminava em um penhasco, que enigmaticamente se encontrava exatamente em frente ao pôr do sol que havia nos acompanhado naquela caminhada. Sentamos para contemplar, e com o medo e curiosidade de duas crianças, nos beijamos. Entretanto, como a estrada e o pôr do sol, o beijo também acabou, pois era apenas um sonho.




domingo, 22 de julho de 2012

Degradantes madrugadas


  Madrugada de segunda-feira. Neblina, frio, um minuano cortante e os resquícios de uma noite de domingo. Ainda se houvem as últimas notas que foram tocadas na guitarra, ecoadas em um vazio imenso de escuridão, o qual os miseráveis postes de luz tentam superar. E em um contraste estranho entre um azul marinho profundo e o laranja fluorescente das luzes, ruas vazias.
  Um certo sentimento de medo vai impregnando as minhas veias. Sons, passos, chaves, luzes, carros. Nada incomum, porém aterrorizador quando se está sozinho em uma madrugada. Ônibus passam vazios, talvez ainda com a essência daquela noite, mesclada com o sabor de segunda-feira.
  É possível ouvir um ruído a quilômetros de distância, e agora, qualquer ruído não é apenas um ruído. As chaves de casa que já foram jogadas para dentro do portão, me deixam presa em uma cela aberta, contudo, sem escapatória. Com um olhar atento e sonolento vigio incansável e inutilmente ao meu redor, na esperança de conseguir antecipar meus gritos para o nada.
  Madrugada que se repete todo o início de semana, entretanto, cada vez mais fria e escura, aterrorizante e solitária, conforme o inverno vai se acomodando. Conforme o medo vai me domando. Conforme meus pensamentos me torturam em um filme de terror completamente projetado e ilusório. E meu psicológico me iludi, brinca, me causa medo, faz sentir calafrios. Os minutos se tornam horas, e os sons se tornam ameaças.
  Apenas incansáveis vinte minutos, torturantes, degradantes, frios, e cada vez piores.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

This is Rock!

 E pra vocês, com honra, divulgo o video dos meus amigos da PREGOS NA PAREDE. Sem mais.

(Pregos na Parede - Rádio Pirata/RPM)

 A propósito, quem for ver o video, veja até o final né, por favor. Muito provavelmente vou anunciar os shows deles por aqui, como uma boa fã. Enfim, se gostaram compartilhem, se não gostaram compartilhem também, o importante é assistir.
 Beijo na massa cinzenta, e se cuidem.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Em lados opostos de um mesmo mundo


  Em suas mão havia um livro qualquer, o qual ela lia fervorosamente, compenetrada em seu mundo de ilusões. O frio a obrigava a usar luvas, cachecol, e um casaco relativamente grande, que fazia com que estivesse completamente desajeitada. Naquela visão de milhares de roupas com alguém em seu interior e um livro cobrindo o rosto, o que apenas se via, eram seus cabelos compridos ao vento, que, de uma forma desajeita, a deixavam linda.
  Ao som da música alta, perdido em seus pensamentos, estava ele. O frio que atingia a ela, não atingia na mesma proporção a ele. Ao longe, só se observava alguém com um olhar profundo, em um eterno vácuo. E que, no mesmo compasso da música que ouvia, batia constantemente a mão em um objeto qualquer. Estavam tão distantes um do outro, em mundos completamente distintos, mal sabiam eles, que estavam sentados no mesmo banco.
  Por uma grandiosa brincadeira do destino, ironia da vida, ou apenas distração da linha do tempo, a menina do livro, em uma dessas manhãs convencionais onde ambos sentavam em lados opostos do banco, ao levantar-se, sem perceber, deixou cair seu cachecol. O menino músico, nem ao menos notou que ela havia saído, entretanto, quando ia embarcar no ônibus, viu aquele cachecol no banco da parada, e sem pensar, o pegou. Ao final do dia, ele estava usando o cachecol.
  Voltavam sempre no mesmo ônibus, e naquele dia, isso não iria mudar. Ao descerem na mesma parada, a garota não pode deixar de reparar no cachecol que o garoto que descia a sua frente usava. Então, deu-e conta de que seu cachecol não estava em seu pescoço. O que ela faria? Perguntar? Acusar? Nunca havia visto aquele menino. E se o cachecol nem ao menos fosse seu? De repente, já fora do ônibus, depois de uma sucessão de pensamentos automáticos, notou que palavras saíam da sua boca:
  • Com licença, esse cachecol, onde você o encontrou?
  • Aqui nesse banco. Por acaso é seu? - Perguntou com os olhos baixos.
  • É sim, obrigada por pegá-lo.
  • Imagina. - Disse devolvendo a ela. - Seu...Seu perfume é muito bom.
  • Obrigada.
  Nesse momento, olhavam nos olhos um do outro, mergulhados na imensidão, como se houvessem encontrado, o que procuravam por tanto tempo, e que sem perceber, estava literalmente ao lado deles.

Bárbara Hunter

Nota: Finalmente, o último texto selecionado. O pseudônimo é Bárbara, porque eu sempre gostei desse nome. E o sobrenome, é porque, então, as iniciais ficam BH, como alguns me chamam, e BH da Bhrenda e Hugo (awn, que fofo). De qualquer forma, estou feliz por estar compartilhando a minha felicidade com quem lê o blog. Eu sei que muitos de vocês irão julgar, mas foda-se.

sábado, 14 de julho de 2012

Sentença de uma mente culpada


  Ela estava no banheiro. Encarava-se no espelho embaçado tentando descobrir a si mesma. Na pia havia sangue, e suas mãos tremiam demais para ligar a torneira. Enrolada apenas em um roupão, reconstituía os fatos daquela noite.
  Atreveu-se a ir até a sala. Uma garrafa de vinho, cacos de vidro pelo chão, sangue, um homem, sangue, um corpo, sangue, seu amor. A cena provocou-lhe ânsia, e apesar do ato cometido aquela noite, não lhe eram de costume tais circunstâncias. Foi então que aquele vinho lhe atraiu. Embebedou-se o suficiente para esquecer a culpa.
  Agora sentada no sofá da sala, de pés descalços, com o roupão entreaberto, em meio aquela carnificina, admirando o sangue em suas mãos que não mais tremiam, levantou-se, e foi até sua cozinha. Abriu uma das gavetas e correu seus dedos finos pelas facas. Escolheu a mais afiada. Encheu a banheira com água morna e banhou-se. Limpa daquele sentimento fúnebre, ainda nua, pegou a faca que havia deixado sob a pia do banheiro e sentenciou a própria morte.
  Meia noite, ela acabara de sair do banho. Sorria, pois logo ele iria chegar. Estava secando suas pernas branquinhas, quando alguém bateu a porta. Apenas vestiu um roupão e soltou seus longos cabelos morenos. Foi até a porta, e quando abriu, seu sorriso desmanchou. Viu apenas aquelas mãos gigantes agarrando-lhe a cintura, o cheiro de álcool, e a garrafa de vinho na mão. Ela debatia-se desesperadamente, tentando fugir daquela criatura grotesca.
  • Vamos linda, colabore com o último desejo de seu marido.
  • Último desejo? - Balbuciou.
  • Ele gritou seu nome antes de eu o matar.
  Sua visão escureceu, o chão sumiu, viu apenas um vaso de flores ao alcance. Cacos de vidro, sangue e um homem morto em sua sala. Seu amor, sangue, um corpo, sangue, uma faca, sua morte.

Phoebe O'Connor

Nota: Esse é o outro texto selecionado para o Liberarte. O pseudônimo assinado é o nome da personagem principal do livro "Uma história a três", que, aliás, vale muito a pena ler.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Porém, a gente cresce


 Saudade de quando não havia tédio, e eu conseguia tornar qualquer coisa a minha diversão. Saudade de quando um copo de Nescau me fazia a criança mais feliz do mundo. Saudade de quando a minha maior preocupação era se eu ia conseguir ver meu desenho preferido. Saudade de quando eu odiava meninos, e eles odiavam meninas, e eu podia contar com minhas amigas de verdade. 
  Talvez eu nem tenha sido feliz aos olhos dos outros, porque eu não ganhava todos os brinquedos que queria, eu não tinha videogame, nem uma família de verdade. Meus avós moravam longe e grande parte do tempo eu estava sozinha. Entretanto, eu não me importava, e é disso que eu tenho saudade, de não ligar para as coisas e viver na insuperável inocência infantil. Conseguir estar sorrindo, mesmo brincando sozinha com meus amigos em uma história imaginária, considerando aquilo a coisa mais incrível do mundo.
  Porém, a gente cresce. Eu cresci, e com isso vieram os problemas, ou melhor, e com isso eu comecei a perceber e me preocupar com os problemas. Porque eles sempre estiveram ali, me machucando, me atingindo, mas eu simplesmente era feliz por ignorar inconscientemente tudo aquilo. Agora eles estão perto, longe, em mim, em toda a parte. Muitas vezes eu sou o problema. Eu tenho saudade, saudade de quando as coisas eram diferentes.
Hina Sword

  Nota: Hina Sword é o meu pseudônimo escolhido (por razões que não são de grande relevância explicar). 

  Esse é o texto que foi para o livrinho do Liberate. Aliás, um dos textos, porque escolheram três das cinco crônicas que enviei para publicar. E vocês devem imaginar a minha felicidade, não? Porque eu contava apenas com uma crônica publicada ontem, quando postei o "texto" anterior (não sei se aquilo é exatamente um texto), na verdade, eu não contava com nada, mas enfim. Amanhã posto outro texto publicado, e depois posto os não escolhidos também, com suas devidas correções, claro.
  Quero parabenizar os outros ganhadores do Liberarte, se algum deles ler meu blog, obviamente, todos merecem. E, contar um fato que me ocorreu na entrega do prêmio: ontem eu recebi o e-mail dizendo que eu tinha ganhado, com instruções de onde seria a premiação e etc. E publiquei, como vocês viram. O que aconteceu, é que eu achei que a entrega dos prêmios seria no módulo, por mais que eu tivesse lido muitas vezes "auditório" escrito naquele informativo. E, como vocês podem imaginar, eu fiquei esperando lá, no lugar errado, até me avisarem e eu sair andando, desesperada, para não perder nada. 
  Acho que é isso, até a próxima. 
  A propósito, desliga o computador e vai ler um livro.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

"Oi, Bhrenda
Seu texto foi selecionado para o Liberarte 2012.
Compareça à cerimônia de premiação, amanhã, às 10h, no Auditório.
Um abraço
Íris"

  Olha a minha surpresa de quarta-feira aí. Como eu havia mencionado no texto anterior, eu preparei alguns textos para um concurso da minha escola, o tal de Liberarte. E como vocês podem ver, no anexo acima, eu fui selecionada! 
  Obviamente, eu fiquei muito feliz, porque eu estava completamente desacreditada. De qualquer forma, amanhã posto o texto "vencedor", e logo postarei os outros que mandei para concorrer.
  Beijo no cérebro, até más.

domingo, 1 de julho de 2012

Buenas!

  Faz um bom tempo que não posto, não é?
  Bom, se você não lê meu blog, provavelmente nem tenha notado. Na verdade, se você não lê meu blog, provavelmente nem está lendo essa postagem, mas enfim.
  Agora, se você lê meu blog, e por algum motivo sentiu saudade dos meus textos (o que eu considero muito improvável), acho que devo explicações. Pois bem, acontece que com essa vida de escola, não tenho tido mais tempo para escrever, e os textos que escrevi foram reservados todos para o Liberarte (que, para quem não conhece, é um "concurso" de textos da minha escola, digamos assim). E além disso, como não recebo comentários nos meus textos, fui desanimando, comecei a achar que estava escrevendo para ninguém.
  Mas eis que me bateu aquela saudade do blog! E talvez eu volte a escrever minhas bobagens dopadas com uma dose de café, e musicalizadas com um pouco de rock. Fica a escolha de vocês agora, se querem continuar acompanhando os textos da minha pessoa. E eu prometo, os próximos textos serão mais bem escritos.
  Beijo no cérebro, e até mais.