Os dias foram passando.
Dias chuvosos, dias apenas frios, de que importava? Alice estava
feliz por passar 15 minutos da sua manhã com aquele garoto incrível.
Conversavam sobre tudo, o que haviam feito no dia anterior, o que
fariam naquele dia. Conversavam sobre livros, filmes, música. Aos
poucos ele foi se tornando um cúmplice para Alice, que contava a ele
seus problemas e tristezas, e também suas alegrias, e vitórias. Ele
sabia muito sobre ela, e ela, apesar de não notar, quase nada sobre
ele. Chamava-se Henrique, era dois anos mais velho que Alice, um
garoto que apreciava a liberdade, e criticava a sociedade em que
vivia, era lindo, da maneira que Alice o via.
Henrique não aparecia
todos os dias no ponto de ônibus. Alice não sabia o porquê, e
também, nunca se deu ao trabalho de perguntar, e nem ele de
explicar. Mas, com o tempo, apesar da aproximação cada vez mais
intensa dos dois, a frequência com que se encontravam estava cada
vez menor. Alice amava ele, sentia sua falta quando ele não
aparecia, e não podia suportar esse angústia de não saber o que
acontecia. Em uma das conversas dos dois Alice perguntou:
- O que está
acontecendo? Cada vez aparece menos por aqui.- Que bom que perguntou, era sobre isso que queria falar.
- Então...?
- Daqui há alguns dias não poderei mais vir vê-la.
- Mas por que?
- O motivo não importa, só quero que saiba que eu amo você, apesar de nunca ter acontecido algo entre nós além da amizade. Todos os dias, eu acordava e vinha para cá esperar você chegar, conversava com você, e ia embora.
- E o ônibus? - perguntou ela surpresa.
- Eu não precisava do ônibus, não tenho compromisso cedo. O motivo por eu vir aqui todos os dias, era somente ver você. Eu a vi em uma manhã, achei incrivelmente diferente, e passei a vir todos os dias, até ter a oportunidade de me aproximar de você. Quando consegui, nossa, não imagina o quanto fiquei feliz, e quanto mais conhecia você, mais me apaixonava, mais a amava.
- Então por que não virá mais?
- Não quero que você, minha pequena, preocupe-se com isso. Quero apenas ver a sua felicidade. Então lembre-se que meu coração estará com você para toda sua vida, mesmo que eu não esteja mais ao seu lado.
- Mas... Eu não quero me afastar de você. - Lágrimas rolavam eu seu rosto.
- Eu também não, mas não há escolha. - Beijou-lhe a testa – Agora você tem que ir, seu ônibus já esta aí.
Alice sentia-se
desolada. Henrique não ia mais vê-la, e ela sabia que era para
sempre. Quis procurá-lo, então deu-se conta de que não sabia nada
sobre ele. O que ele fazia, onde morava. Não tinha sequer algum
contato, número de telefone, qualquer coisa. Entrou em desespero,
precisava dele, queria ele. Tinha que dizer-lhe que o amava, que
sempre amou. Perguntou as pessoas que esperavam o ônibus com ela,
mas ninguém ao menos sabia da existência dele. Passou a se
perguntar se tudo aquilo não foi um sonho, uma mentira, uma ilusão.
Os dias perderam a graça, o inverno parecia sem vida. Tudo que
passava diante de seus olhos não era visto. Até o calor
aconchegante da lareira pareceu já não fazer diferença.